Na tradição de Avalon e da Deusa, Yule, o Solstício do Inverno, representa o estado de morte e de hibernação, quando a vida se recolhe no interior das camadas e camadas de neve e de terra, protegida do gelo e dos ventos frios, esperando adormecida que chegue a Primavera para renascer. As aves de rapina limpam até ao osso os cadáveres dos animais cuja vida chegou ao fim; as sementes apodrecem, transformam-se, preparando-se para ativar os códigos com que a Natureza as dotou. No ventre da terra, a vegetação morta torna-se alimento para a nova vida. Ossos, pedras, conchas, cascas vazias são tudo o que resta neste tempo em que a morte cumpre em pleno a função que tinha começado no Equinócio do Outono.
Até ao renascimento, Yule é quietude, resiliência. É preciso parar, aguentar, esperar. Entretanto, no meio de toda a morte e desolação, uma planta há que permanece igual a si mesma: o verde Azevinho com as suas bagas vermelhas, um símbolo da permanência da Deusa, daquilo que na Vida é eterno, mas também uma importante reserva de alimento que Ela providenciou para os seus pássaros sagrados, mensageiros entre a Terra e os Céus, representações do Espírito e do Elemento Ar. Sabemos que as aves são por todo o lado uma das mais antigas zoofanias da Deusa.
É óbvio que o nosso clima mediterrânico não nos permite sentir este rigor extremo, a não ser nas regiões mais montanhosas e mais a Norte. Seja como for a estação convida-nos ao recolhimento e à quietude, e também à possibilidade de nos submetermos à ação precisa e rigorosa dos ventos, que nos ajudarão a despir, a libertar-nos de tudo aquilo que já não queremos, do que já não faz sentido conservarmos connosco ou em nós.
A Deusa, no seu aspeto anciã, Danu, Cailleach, Cailícia-Beira, convida-nos a chegarmos ao “osso”, à essência da nossa verdade, libertando-nos do falso e do supérfluo, soltando as máscaras, a falsa alegria, a conversa fiada, tudo aquilo que repetimos como autômatos, vazio de sentido, sem alma nem consciência. Ela convida-nos a estarmos mais presentes e mais despertas na Vida, honrando o silêncio, permitindo-nos a nós mesmas igualmente hibernar, interiorizarmo-nos, vivendo a nossa verdade, centradas no coração.
Este é por excelência um tempo de interiorização, tempo para nutrirmos o espírito e a alma, para orarmos, meditarmos, para enfatizarmos a nossa vida espiritual, uma vez que o elemento Ar representa o próprio Espírito. Como os nossos Ancestrais nos permitem uma conexão vital com o divino, com a fonte de toda a Vida, contactando com esses mesmos Ancestrais, podemos contactar com a própria essência divina, com a fonte de toda a Vida e, com sorte, receberemos a sua graça. Este é o tempo ideal para nos encontrarmos com os nossos mais remotos Ancestrais, aqueles que nos criaram, os seres de Fogo, Ar, Vento, Água, Terra primordiais, tentando ouvir as mensagens que podem ter para nós.
- "Priestess of Avalon, Priestess of the Goddess, Kathy Jones
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