Nada lhe posso dar, que já não exista em você mesmo, não posso abrir outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma.
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
Mau Olhado (quebranto)
Mau Olhado (quebranto)
Nas crianças se chama quebranto, é um esmorecimento geral,
um langor, uma quebreira da vontade que toma conta do corpo.
Pode dar em qualquer pessoa. Tem sido atribuído à força do olhar
de invejosos ou mal-intencionados.
Acontece também que algumas pessoas isentas de inveja tem olhar forte,
condição desconhecida ás vezes até do próprio dono do olhar.
Na sociedade primitiva, o invejoso, outro tipo de pessoa de olhar forte,
é sempre rejeitado, porque influi no animo das pessoas.
E fácil conhecer quando acontece o mau olhado. Se ao olharem para nós começarmos a espirrar,
ou abrirmos a boca em longos bocejos, sem parar, é sinal de que fomos atingidos.
Não é de hoje que se temem os seus efeitos. Demócrito mencionava já entre os mediterrâneos essa crença,
da qual não conseguira determinar as origens. Aristóteles comentava que o olhar de algumas pessoas
podia causar perturbação funesta no corpo e na mente dos fascinados. A história de Medusa,
cujo olhar petrificava as pessoas é uma história de mau-olhado.
Os povos antigos conheciam a figa, símbolo sexual e amuleto, para afastá-lo.
Entre nós, usa-se a figa feita de duas plantas mágicas: de arruda e de guiné para o mesmo fim.
O mau olhado é força mais branda do que o feitiço e na maioria das vezes não é premeditado.
Contra ele, além da figa e da fava-da-inveja que se colocam no pulso ou no pescocinho das crianças,
usam-se as plantas mágicas: a arruda, a guiné, comigo-ninguém-pode e outras; fazem-se os ensalmos
e cumprem-se os rituais das simpatias.
A crença no mau-olhado é universal. A língua dos povos atesta a sua difusão e persistência.
E o mal-occhio, o evil eye, o mal de ojo. Entre nós é chamado além de mau-olhado, olho de seca-pimenteira,
olho-grande, olho de inveja, olho-mau, maus-olhos.
No IX livro das Noites Áticas, Aulo Gélio conta que as pessoas da Ilíria podiam matar,
estando irritadas, apenas olhando fixamente para o adversário.
(In Dicionário de Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo).
A mágica de proteção contra o mau-olhado na antiga Grécia era desenhar ou gravar olhos nos objetos,
para defender das forças invisíveis do mal.
Talvez reminiscência da maga Medusa, uma das Górgonas, de olhos tenebrosos e cujo olhar fazia se
transformarem em pedra as pessoas que os fitavam.
Os amuletos mais populares contra o mau-olhado são:
a figa, o corno, a mão cornuda, a meia lua, o corcunda, o elefante.
Usa-se também uma fitinha vermelha, amarrada no pulso o ou em torno do pescoço.
A figa é o mais usado e o mais antigo dos amuletos contra o mau-olhado.
Sobrevive nos usos dos povos os mais diversos. Sabe-se que já existia entre os etruscos.
E mencionada por Dante, por Shakespeare. Entre os povos da antiguidade, como símbolo fálico,
prendia-se aos cultos da fertilidade e da fecundidade. Em Roma era usada no pescoço das mulheres e das crianças,
o que provocou o desaprovador reparo de Varrão, de que a figa é a representação do ato sexual,
sendo polegar em riste apertado entre o indicador e o médio dobrados, o órgão masculino penetrando o órgão feminino.
Encontraram-se inúmeras figas nas ruínas de Herculano e de Pompéia.
Hoje ela vive um pouco nos folclores de toda a Europa de onde passou para as Américas.
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