sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Os 14 nomes de Lilith

Para os estudos da alma a feiticeira é a mulher
que acolheu a sombra e a luz em si mesma, assim como o feiticeiro impedindo,
que seus potenciais negados passem a sugar sua energia e enfraquecer sua vida.
Há um protótipo coletivo, contado em mitos, que guarda as potencialidades
rejeitadas femininas e esperam ser integradas:

**Lilith, uma imagem inquietante derivada do arquétipo da Grande Mãe (Sicuteri, 1985).
Conhecida também como a Lua Negra, é a faceta sombria do feminino que evitamos encarar.
É o último encontro com as energias rejeitadas lá nas profundezas antes da iniciação nos mistérios. Diz-se dela demoníaca, justamente porque representa aquelas partes excluídas
que aprendemos a odiar: “não é assim que se porta uma mocinha”, "Esta moça não é para casar".
É também o lado terrível da vida mesclado ao extraordinário.
Seu convite não manda recados, é o de ter com a alma, sem a mediação da razão,
um embate verdadeiro.
Queimada nas fogueiras do consciente e da inquisição, este vazio tenebroso e indomável,
arde desertos incognoscíveis a espera de um olhar.
Chamo de feminino o princípio côncavo, escuro, indecifrável e introvertido
infiltrado em tudo e todos, não só na mulher.
É verdade que o útero, receptáculo oracular na fêmea,
é um expoente de carne deste lado da Deusa.
No mapa astrológico, a Lua Negra indica as curvas rejeitadas do princípio tecelão.
A serpente, senhora dos mistérios, a energia Kundalini, arrasta o seu ventre até o Sublime.
Já o mito, entendo como histórias pessoais que perderam suas raízes de sangue
transformando-se em lendas coletivas “transcendentes".
Portanto, é um dos lados afetivos da nossa totalidade onde se acessa destinos longínquos
em seu arquétipo. Quero dizer, ou os mitos nos escrevem sem a gente notar,
ou começamos a co-criar com eles.
Quem já participou de uma Constelação Familiar apreende como é isso.
No caso, como nos conta os mitos, a primeira mulher de Adão, Lilith, não era domesticável, exatamente como a vida e a morte jamais serão.
Talvez o medo e o horror desta condição inexorável tenham ajudado a renegá-la, excluí-la e finalmente trocá-la por uma nova criação, menos desafiadora,
Eva, esta, ao tentar incluir Lilith (parte de si mesma), escutando a serpente,
descobre horrorizada que foi a responsável pela expulsão do paraíso.
Imagina toda uma cultura se erguer sobre os escombros da queda? (Campbell, 2001)
É como se nos dissessem "gramofonicamente": “se você incluir a morte, as doenças, a maldade, a dor, o prazer, a loucura, o que não se pode conhecer, o mistério, o gozo sem intenções, a intuição, o irracional, você está fora”.
Fora de que? A vida não tem concessões, ela é o que é.
Nela mesma cabe a bem-aventurança e a total destruição, os 5 rostos de Shiva.
Os diversos atributos das Deusas.
Shiva, por sinal, sede aos encantos de Kali, um dos nomes de Lilith, quando é submetido ao seu poder renovador.
Ela, com seu colar de caveiras, acaba com as ilusões para uma vida mais vigorosa emergir.
Vemos algumas semelhanças com os mitos de Ísis. Resumindo: Lilith, esta energia renovadora, foi substituída por Eva.
E o que a gente tem a ver com isso?! Alguém já foi trocada por uma mulher “bem melhor”?
Menos descabelada, com a carteira assinada? Ou enlouquecida e selvagem com mil tatuagens e uma motoca desembestada? Alguém já foi comparado/a com um/a irmã/o?
É assim que os pais manipulam pela culpa e rejeição o que aceitam e o que não toleram.
Quando o namorado é apaixonado por você, mas te diz: “não te quero, você é muito diferente de mim!”, ele tenta fazer a mesma coisa: dizer o que cabe e o que não.
Ele simplesmente podia ter ido embora, mas justificar pelas diferenças? Já viu algo mais diferente do que um homem e uma mulher?
Qualquer outra pendência é pinto... a começar por aí... Quando a sociedade ou a família diz,
“mulher direita é isso e a vagabunda é aquilo”, ela está esclarecendo quais as características você pode desenvolver em segurança e quais terá que excluir para ser aceita.
Lilith gostava de ficar por cima no ato sexual, desafiava a passividade, mas nunca o mistério, revelava que a natureza não era tão boazinha, uma vez que "comia" criancinhas,  a morte e os partos trágicos não a deixavam mentir.
Alguma semelhança com o que acontece ainda hoje em todas as famílias quando os potenciais assustadores para aquele sistema são reprimidos? “Aquela mãe desnaturada”. “Aquele tapa na cara da avó puritana”. “A piranha que roubou o meu bisavô da bisa”. “Os abortos provocados”,
e os cistos doloridos, a cólica, o olhar ferino, a unha pintada e aquele sorriso.
Gritos de socorro de forças sufocadas? Quando a primeira mulher teve coragem de integrar em si mesma, a despeito de todas as rejeições e violências, todas as suas dobras
as mais difíceis e as mais lindas e invejadas que a fizeram ficar tão mal-humorada,
ela se tornou feiticeira.
Nas Constelações tomamos como diz Jung, até a borra, a mãe, a avó, a bisavó, mesmo que o seus lados terríveis tenham sido mais atuantes.
Ora, se foi assim, tem muito feminino atrofiado que precisa ser legitimado.
Tomar, mesmo aquelas que parecem uns docinhos, mas de fato são terríveis com sua abnegação santificada. Tomar tudo, até seu fim.
Não quer dizer se manter sob a negligência ou o domínio de torturas psicológicas e físicas da mãe, pelo contrário, é absorver a seiva que vem, sem julgar, sem se arrogar nem tentar curá-la,
sem querer mudar o que aconteceu, para dar outros contornos mais criativos a estas manifestações
até então desafiadoras. É também aceitar as amantes, as filhas “ilegítimas” de nossos pais e avós,
as mães biológicas dos filhas adotivos e dizer para elas: vocês pertencem!
É incluir todas as faces do feminino excluído em nós e em nosso entorno.
Ninguém está dizendo para gostar ou conviver com o que causa dor, mas acolher o que pertence. enfatizar a descida até a essência, o encontro com a prima matéria para encarar a sombra,
os nossos aspectos negligenciados. o “movimento sistêmico do amor”
temos encarado e acolhido pessoas de nosso sistema familiar que foram proscritos.

Por isso, nos cultos em homenagem ao feminino, se falam os 14 nomes de Lilith:
Abiti, Abiga, Amrusu, Hakash, Odem, Ik, Pudu, Ayill, Matruta, Avgu, Katah, Kali, Batuh, Paritasha,
para que ela não destrua nossa insanidade bem aventurada, nem nos faça cometer ou negar, se tiver que ser assim, os atos terríveis (Koltuv, 1985).
Só então se pode ter um encontro decisivo com a alma.
...................................)0(

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