As bruxas modernas não cruzam os céus cavalgando vassouras nem cozinham mandrágoras com asas de morcego em enormes caldeirões.
Também não correm o risco de ser levadas às fogueiras da Inquisição sob acusações de heresia e prática demoníaca. Ao contrário, bem-sucedidas e respeitadas, elas apresentam programas de rádio e de televisão, publicam livros que rapidamente se transformam em best-sellers e utilizam computadores para prever o futuro. E, na hora de viajar, preferem o conforto dos aviões. Apesar das mudanças, elas continuam fiéis aos princípios do culto da Deusa Mãe e aos ritos que fizeram das suas ancestrais as guardiãs de um conhecimento mágico, propiciador de uma proveitosa harmonia com os deuses que se manifestam nas forças da natureza.
A bruxaria e os ritos à Deusa Mãe estiveram presentes em todas as civilizações, desde sempre. Os babilônicos, por exemplo, cultuavam Ishtar, deusa lunar da vida e da morte, a quem ofereciam sacrifícios e imploravam fertilidade para os campos e os rebanhos. Já os antigos egípcios, adoradores de Ísis e de Háthor, suplicavam a essas divindades que tornassem fecundo o vale do Nilo e que lhes concedessem muitos filhos.
Vida, fertilidade, riqueza - a semelhança entre o que concediam as deusas desses povos tão diversos não se deve ao acaso. Para essas civilizações do passado, o maior favor que os deuses podiam prestar a um mortal era garantir família numerosa (com muitos braços para o trabalho), a reprodução do rebanho e colheitas fartas.
E como nos humildes lares camponeses as mulheres se igualavam a deuses por sua capacidade de dar à luz um ser humano e de alimentá-lo com seu leite, desenvolveram-se os cultos matriarcais, de adoração a divindades femininas. De todos os povos antigos que exerceram maior influência sobre a bruxaria europeia foram os celtas, que se estenderam por grande parte da Europa central e ocidental entre o segundo milênio e o terceiro século antes de Cristo e tiveram forte presença particularmente na França e nas Ilhas Britânicas. Os celtas reverenciavam a Deusa Mãe, representada por uma mulher de seios fartos e barriga saliente, símbolo da terra, e seu filho, o Deus Chifrudo, um ser meio homem, meio animal, protetor dos animais e das florestas.
No decorrer de quase dois mil anos de migrações, as tribos celtas sofreram uma grande influência cultural de outros povos. O culto à Deusa Mãe e ao Deus Chifrudo se fundiu à herança de outras civilizações.
Assim, na Idade Média (476 a 1453), as bruxas - herdeiras da tradição celta - possuíam muitos conhecimentos e eram extremamente poderosas. Detinham os segredos das ervas e dos talismãs e eram muito procuradas por pessoas simples, que buscavam saúde e amor, e também pelos nobres que, em segredo, lhes pediam a ampliação de seus domínios e poderes.
Durante o ano, as bruxas comemoravam um total de oito festas, os sabás, que tinham se originado de rituais celtas. O mais importante desses sabás, que tinham se originado de rituais celtas. O mais importante desses sabás era o de Samhaim, também conhecido como Halloween, que acontecia no dia 31 de outubro e marcava o início do ano novo pagão.
Nessa ocasião, as bruxas se reuniam nas clareiras dos bosques, de preferência à noite, para escapar à perseguição da Igreja Católica, dançavam em volta de grandes fogueiras.
Realizavam diversos feitiços e prestavam reverência referência a um homem vestido com pele de veado, representante do Deus Chifrudo, que mais tarde passou a ser injustamente associado ao Diabo. Ao amanhecer, as bruxas e os magos (bem menos numerosos) terminavam a cerimônia com uma orgia. O sêmen, símbolo da semente, ao penetrar na mulher, símbolo da terra, representava o milagre da fecundação e da formação da vida.
Hoje, os oito sabás continuam a ser comemorados pelas seguidoras da Deusa Mãe.
E mais: o Halloween, ou Dia das Bruxas, é uma festa popular, principalmente nos Estados Unidos, onde as crianças saem às ruas com fantasias de temática sobrenatural (duendes, gnomos, monstros, fantasmas) para pedir guloseimas e pregar sustos nos adultos. Essa brincadeira tem um sentido mais profundo: ela visa, por meio da alegria, amenizar o lado sombrio das forças liberadas no dia 31 de outubro. É que, no Halloween, os portais que separam o mundo visível do invisível se tornam mais tênues. O contato entre os mortos e os vivos se estabelece mais facilmente e os oráculos fornecem respostas exatas. A exemplo das suas antepassadas, as bruxas modernas realizavam cerimônias especiais no dia de Halloween. Talvez as orgias sagradas não aconteçam mais, mas as bruxas de hoje fazem questão de ressaltar que exercem a arte da magia com uma atitude de respeito máximo por todas as manifestações da vida - inclusive a sexualidade.
Fonte: Revista Destino
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