Quem nunca passou dias, semanas, meses 
ou até anos admirando de longe uma pessoa sem nunca arriscar uma 
palavra, gesto ou declaração de amor? Você já deve ter vivido isso. Sabe
 aquele cara que achava maravilhoso e ficava imaginando mil cenários, 
encontros românticos, cheios de luzes, músicas e promessas de amor 
eterno , pra depois ouvir músicas que 
falavam de amores impossíveis ou traições dolorosas e até sofria pela 
rejeição do seu amor platônico? Curiosamente, mesmo quando essa relação 
se efetiva, permanecemos apaixonamos pela pessoa que está na nossa 
cabeça e raramente pela pessoa real.
O grande impasse dos relacionamentos é 
que na maior parte das vezes você assume um compromisso com o João e se 
relaciona com a imagem do João, sem avisá-lo disso.
Explico – Maria está casada com o João 
há 26, homem honesto, trabalhador, dedicado aos filhos, afetuoso, mas 
não muito estudado e as vezes um pouco rústico. Ela tem um amante há 25 
anos e 7 meses desde a primeira vez que João se mostrou um pouco 
limitado intelectualmente. Naquele momento ela pensou,”bem que o João 
poderia estudar um pouco mais”. Ali nasceu o amante. Cada atitude do 
João real passa pelo filtro de suas fantasias e expectativas e toma 
outro formato. O drama cotidiano é que Maria jura de pés juntos que está
 lidando com a pessoa real e nem desconfia que exige coisas do João por 
causa daquele imaginário. Maria passa a comparar o João real com aquele 
amante super-intelectualizado e ávido leitor de filosofia. O casamento 
deles estaria marcado por essa cegueira funcional.
As desilusões decorrentes desse tipo de 
engano são muito comuns. Várias vezes a pessoa diz, “mas ninguém me 
entende” e nem se dá conta que se ninguém a entende é porque ela não 
está sabendo se expressar de forma adequada. É bem possível que ela não 
esteja se relacionando com fatos concretos. Se ela projeta uma fantasia 
dos outros como gostaria que fosse, é bem possível que os outros não a 
entendam, afinal ela não se comunicou com a realidade, mas com o seu 
devaneio secreto.
Essa pessoa gera uma insatisfação já que
 caminha sobre duas realidades, aquela que os sentidos alcançam e outra 
que é uma versão fantástica, imaginária e emocionante da primeira. O 
resultado é o tédio.
Cena imaginária: 
hoje é
 dia do aniversário de 3 meses e 22 dias do nosso namoro e com certeza 
ele vai trazer flores com chocolate. Acho que agora ele percebeu que sou
 a mulher da vida dele. Com certeza vai me apresentar para a família e 
dizer que somos o casal perfeito.
Cena real: Ele chega um
 pouco cansado do trabalho, beija a namorada feliz em vê-la, mas um 
pouco lamentoso pelo dia difícil. Ela pergunta se ele não esqueceu de 
nada. Ele responde negativamente e imediatamente toma um tapa na perna. 
Ela fica mau humorada, indisposta e não quer falar sobre o assunto, 
afinal ele nunca sabe o que se passa com ela e não reconhece a namorada 
que tem. Ele fica paralisado e ouve ela o acusar de que além de tudo é 
um insensível que não tenta saber quais são seus verdadeiros sonhos.
Essa cena hipotética parece plausível 
para jovens de 16 anos, mas em alguma medida e com as devidas variações 
se repete inúmeras vezes com os casais. Expectativas ocultas não 
verbalizadas que se tornam uma arma contra o outro.
Quando você era criança sua mãe parecia 
adivinhar o que você queria. Claro, suas necessidades se resumiam a 
comer, defecar, sorrir para obter cuidados, chorar pra mostrar 
desconforto, tomar banho e trocar de roupa. Apenas alguns botões 
poderiam ativar sua felicidade, mas hoje, como adulto não existe a mamãe
 para embalar seu berço e se quiser água terá que levantar ou pedir 
claramente para alguém e não olhar com “cara de sede” e exigir que o 
outro adivinhe tudo.
No mundo adulto, é preciso aprender a 
ser claro e parar de exigir que as pessoas “leiam” você porque te 
conhecem e deveriam saber tudo a seu respeito. Lamento, mas sua vida 
será um mar de alucinações e desesperança se buscar essa relação 
telepática. Além do mais, as pessoas mudam e vale a pena não assumir que
 conhece inteiramente seu parceiro, mesmo que já convivam há muito 
tempo.
Abra seus olhos, ouça com calma, preste 
atenção sem interromper ou tentar deduzir o que o outro está falando, 
respire fundo na hora de interagir, pare de controlar cada resultado de 
suas palavras, esqueça de tentar entortar o mundo conforme seus desejos.
 Saia de sua mente e dê uma chance para as pessoas se relacionarem com 
uma pessoa de verdade. 
O mundo não é um berçário.
....................................................................;) 
 
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